Roteiro de foto-biografia.


Edição da Câmara Municipal de Braga, complementando o livro de poemas e fico só e falo com as sombras, publicado por Luís Soares Barbosa, seu sobrinho, eis, com um belíssimo design gráfico de Luís Cristóvam Dias, o que, com modéstia, se apresenta como uma foto-biografia de Maria Ondina Braga. 
Reúne imagens inéditas, legendadas com excertos dos poemas, que no livro respectivo se publicam.
A um leitor comum ressalta a ausência de títulos na lombada - que fará o livro perder-se nas estantes das livrarias que o recebam - e o facto - que me dizem ter sido intenção de artista - de alguns excertos dos poemas que ladeiam as fotografias surgirem como que guilhotinados ou a esconderem algumas das suas palavras por detrás das imagens.
Mas é obra de há muito aguardada e que deve, por isso, ser saudada e expressa gratidão a quem lhe deu corpo. 
O autor venceu o prémio literário Maria Ondina Braga em 2005 com o livro de poemas que agora se edita.

O destino viaja a bordo


Escrito para a Expo-98, o texto integral encontra-se, verifiquei-o hoje, acessível ao público a partir desta ligação aqui, ou para quem quiser prevalecer-se das novas tecnologias apontando para aqui:



A casa



«E teimo na minha terra: as ruas de Braga, cada esquina, cada pedra, quase. Um a um, vou transpondo os passeios estreitos das ruas velhas, tortas, a brancura das avenidas, as lojas, as igrejas, os largos. Ando por lá peregrinando. É noitinha, e os sinos das Trindades - tantos sinos, meu Deus! Os pardais esvoaçam, murmurantes nas tílias do jardim. Ando por lá e ninguém dá conta. Que coisa boa! Escusado falar, dizer que estou bem, ficar obrigada» [Maria Ondna, Estátua de Sal, página 166].

Auditório de cegos


Tem hoje lugar em Braga [ver aqui] um colóquio internacional dedicado a Maria Ondina. Lamento que a vida me tenha impedido estar presente como espectador. 
Desde há dez anos que mantenho este blog em sua homenagem. Desde há tantos anos almejo ver reeditada a sua obra. Supus mesmo que me seria permitido poder fazê-lo. Para isso fiz copiar na íntegra o seu primeiro livro em prosa, crónica de vida e de viagem, inaugurado com a chegada precisamente à cidade de Malanje onde nasci, livro hoje diria impossível de encontrar, mesmo em alfarrabistas. 
Houve tempos em que era uma escritora votada ao esquecimento. Hoje tem em torno de si estudiosos e eruditos, sem ter leitores porque os livros mal existem, esgotados que estão.
Estou a ler de novo toda a sua obra, que consegui pacientemente reunir, porque me pediram que em Dezembro, a poucos dias do Natal, falasse sobre quanto escreveu e quem foi, na Biblioteca Nacional. 
Á ilusão de que esta obra primordial pudesse acompanhar-me, sucede agora o desencanto. Falarei, pois, a haver assistência, como que para um auditório de cegos, que do livro saberão o que ouvirem dizer.