Um e todos

De novo João Borges e um outro artigo seu sobre Maria Ondina: referência ao seu primeiro em prosa, o Eu Vim para Ver a Terra e à novela A Casa Suspensa. Obrigado ao autor por ter assinalado a sua referência. Todos não seremos demais para que não caia no esquecimento esta notável escritora. Aqui.

Lua de Sangue: contos pequenos de um grande livro

Pela gentileza do próprio, eis aqui o link para um artigo de João Borges sobre o livro Lua de Sangue de Maria Ondina Braga. 
É verdade o que nele se diz a propósito do esquecimento em que caem os autores de contos. 
«O público quer livros grandes», disse-me em tempos o Francisco Espadinha, da Editorial Presença, que se empenhou na divulgação da obra integral da Irene Lisboa, ela também ali lembrada.

Lua de Sangue, uma vida ensanguentada


[reproduzido do blog Dias Que Voam, de Teresa Guerreiro]

O homem só e indefeso


Chegou a Malanje, a cidade onde eu nasci, de automotora, a ler um livro de Camilo Castelo Branco. Na palestra que em 1997 proferiu em Braga, para a comemoração do Dia Mundial do Livro, falou dos livros seus preferidos, detendo-se longamente no autor de A Queda de Um Anjo. Um vizinho, farmacêutico, o senhor Paiva, tinha dele a colecção completa, encadernada a verde. E ela, miúda ainda, insaciável, a trocar as brincadeiras infantis, pela leitura de um livro por dia e a seguir, através dele, o Destino, a trágica força motriz do que sucede e do que não acontece. «Para Camilo, pois, o Homem inteiramente à mercê do Bem e do Mal, ou seja, à mercê de si mesmo. Em suma, o homem só e indefeso». Como para a sua vida.
Uma dúzia de anos depois leria Camilo em Macau, no seu quartinho de professora. «E a meu tio, idoso e com princípio de cataratas, ler-lhe-ia também livros como A Corja, Novelas do Minho, A Brasileira de Prazins. Notáveis». Notável, sim, ela. Magnífica.

Museu Nogueira da Silva

O Museu Nogueira da Silva, em Braga, vai inaugurar na primavera um pólo permanente dedicado à escritora bracarense Maria Ondina Braga. O espaço vai ter o espólio literário e objectos da autora, uma sala para leitura e pesquisa da sua obra e envolve ainda um programa intenso, que inclui projectos escolares, tertúlias, concertos e exposições.
Entretanto, está também a ser concluído o levantamento, digitalização e inventário dos objectos e documentos do espólio de Ondina Braga, com a colaboração do Centro de Estudos Humanísticos da UMinho.

A Biblioteca Pública de Braga

Leio, agora com o livro enfim nas mãos, a descrição do que lera, quando lá estive, precisamente no austero lugar descrito: «Eu, contudo, não mais desterrada no pátio fundo, um livro a furto nos joelhos. A descer a Rua do Souto, eu, a subir os degraus da Biblioteca Pública. Preenchia uma ficha, apresentava o bilhete de identidade. Aquele rigor. Aquele respeito. Eu, até então, uma clandestina. A minha carta de alforria. A minha remissão». 
É Maria Ondina Braga sobre a Biblioteca de Braga. Em Memórias e Mais Dizeres. Um pequeno texto editado em 1988. 
Foi lá que compilei, socorrendo-me do ficheiro, a lista das obras que, sacrificada, traduziu. Viajei de comboio em busca da sua presença. Guardo ainda o projecto, o sonho e o amor, de escrever sobre ela, de o conseguir, de respeitar a sua alma sensível e dorida.