O livro chama-se Eu vim para ver a terra. Editou-o em 1965 a Agência-Geral do Ultramar, na sua colecção «Unidade», iniciando com ele a secção «Crónica». A autora assinou-o como «Maria Ondina», sem mais apelidos. Só depois passaria chamar-se «Maria Ondina Braga». São notas de viagem, sobre Angola, Goa e Macau, onde viveu e onde leccionou. O livro perseguia-me, por ser o único que me faltava da colecção que fui juntando. Ao tê-lo finalmente nas mãos, emprestado por alguém que levou a gentileza ao ponto de o requisitar numa biblioteca como se fosse para si, cedendo-mo, verifiquei com espanto que as primeiras crónicas tratavam do que eu tanta vez fiz na minha terra natal: a viagem de Luanda a Salazar e de Salazar a Malanje, em caminho de ferro, na automotora das oito e meia da manhã. Foi com esse sentimento de familiaridade e de pertença que me dediquei a lê-lo. Africano não africanista regressei pelas suas páginas ao universo portentoso daquela «lembrança antiga e magoada que nos pertence», àquela «terra úbere até ao esbanjamento», «terra dos primeiros dias do mundo, misto de espiritual e de pagão, de angélico e de demoníaco, a que recebe as chuvas em bacanais de ramos e raízessob um céu de púrpura reflectindo-se o mar pálido, carregado de presságios». Tal como ela, através das suas páginas, eu vim para ver a terra