Prémio Literário Maria Ondina Braga referente ao ano de 2017, Amadeu Baptista editou pela Lua de Marfim o seu livro de poemas. Chamou-lhe Ondina. Um de tantos que desde 1982 vem publicando. Teve a gentileza de mo enviar e, de súbito, a surpresa, a acanhar-me, de ver que o livro me era dedicado.
Ao longo da obra, eis Maria Ondina como se sopro da sua alma por ali esvoaçasse, peregrina. E não são os locais e a sua memória, mas os sentimentos e as sensações que ali se surpreendem, nesta biografia em verso, história do ser interior extraída do que escreveu: «quem me quiser seguir só tem que seguir este rasto/inequívoco de palavras equívocas/que não tenho onde guardar» escreve o poeta como se ela o tivesse dito.
Leio, e em cada linha vejo um dos seus livros, onde tudo disse de si, assim se decifre o modo: «à minha mesa de trabalho/tudo hei-de dizer/com as precárias letras/ que me hão-de cair ao chão/quando partir, definitivamente/deste mercado nocturno/onde me abasteço».
Livro poderoso, abre poderosamente: «Ficam-me os olhos nas cracas/sob a substância escura dos rochedos».
Volto à dedicatória impressa. Dediquei este blog a Maria Ondina Soares Braga sem motivo outro que não a sua própria pessoa. Não sou erudito, académico ou sequer estudioso. Devo ao Rogério Beltrão Coelho texto revisto do que disse na Biblioteca Nacional num encontro sobre a sua escrita. Prometi voltar ao seu espólio, em Braga. No meio do formigueiro de obrigações que me povoam os dias e angustiam as noites, sinto frequentes remorsos de não vir mais vezes aqui, como se a visitá-la. Sucedeu hoje, agora que mais um ano começa. Obrigado Amadeu Baptista. Comove viver o que me deu a viver.