Maria Ondina Braga esteve em Macau depois de em Angola e Goa. O livro A China Fica ao Lado fala da sua estadia na cidade do nome de Deus, e é como se um livro de memórias soltas. Há, que eu tenha reparado, e julgo que o li agora cuidadosamente, uma única excepção com uma reminiscência africana. Vem no conto sobre A Doida, cujos pés «longos, chatos, vítreos, boiavam à flor da água como peixes mortos». A propósito das noites brancas de vigília receosa, as que traziam «sonhos angustiosos», lembra Maria Ondina que «a preta Águeda rezava uma oração ao "pesadelo de mão furadas e unhas encarnadas". Não fossem as mãos do pesadelo furadas, as mãos com que ele nos tapava a boca, e morreríamos abafados». É preciso ter sentido alguma vez na vida esse terror nocturno, genuíno e sufocante, aquele que parece esmagar-nos o coração, como se com um martelo, e nos seca a respiração, como se estoirassem os pulmões, para ter sido capaz de vêr aqui como tudo se passou. Sonâmbulo, acordado em criança a meio da noite, alagado no suor dos pavores sonhados, sei como é. Agora vi como se diz.