Hoje é o dia da mulher. Num livro que dedicou à biografia de algumas mulheres escritoras, Maria Ondina Braga diz que escreveu o livro dedicando-o a essas suas companheiras de tantas horas de solidão, uma delas a Irene Lisboa, de quem lembra o «tudo é dos outros e me foi sempre negado», como o mote que lhe resumiria a história de uma vida. Assinando com o nome masculino de João Falco, por mais facilmente vingarem em 1939 homens na escrita, a autora de «Contarelos» escreveu um livro que até por se chamar «Começa uma vida», e por ser o mundo de orfandade, de colégio interno, de clausura, de recolhimento e em suma de uma comovente fome de ser amada é o seu mundo interior transposto em literatura. «Das vidas caseiras ninguém faz romances», confessou-se num momento de verdade, como se a dizer-nos porque se decidiu a fazê-los. No final da sua vida, morava num quarto andar, na Rua de São Bernardo, junto ao jardim da Estrela, envenenando-se no seu fatal isolamento. Espera por nós no cemitério dos Prazeres desde 1985.