No seu primeiro livro em prosa, uma crónica de viagens, editado em 1965 pela Agência Geral do Ultramar, há, como os editores gostam de fazer nestas coisas, uma badana lateral na capa, com um apontamento biográfico da autora. Esta manhã de domingo, com pouquíssimas horas de descanso, já a fugir ao calor e à procura de um momento de tranquilidade, reparei nisso por acaso num folhear sem nexo e uma estranha sensação angustiosa tomou conta do meu intranquilo ser, ao ler: «Professora do ensino secundário em Angola e depois em Goa onde assitiu à invasaão indiana. Durante dois anos exerceu o ensino particular em Macau». É que nestas linhas está o princípio e o fim da sua biografia aparente, a notada pelos que vêm os corpos humanos na sua viagem por esta terra. Falta dizer que regressou à sua terra Natal, onde viria a morrer. Assim se resume a iamgem de uma vida. Não fosse a vasta, sentida e infinitamente bela obra literária que nos deixou e estaria morta já nesse momento de se anunciar aos seus leitores. O livro chama-se «Eu vim para ver a terra». Fala de África, da Malanje onde eu nasci. «É a terra úbere até ao esbanjamento», escreveu dela, como se falasse da sua própria alma, que nos legou, discreta, meiga, esgotada na literatura, a pátria onde se encontram, em fraternal cadeia de união de sentimentos, os verdadeiros amigos, os mais sentidos amores.