Os meus amigos, os que se preocupam com a minha saúde, os que sabem quanto isto vai acrescentar esforço à já minha fatigada vida e ao culto do cumprir deveres de que faço profissão e honra, dizem-me que é insensatez.
Felizmente eu tenho poucos amigos. E ignoro os conselhos dos que me restam, empurrado pelo desejo e animado pela vontade.
Decidi-me ontem a escrever um livro sobre a Maria Ondina Braga, a juntar a tudo aquilo a que me obriguei e ao que devo.
Hoje acordei em paz comigo. Levantei-me cedo e tomei em mãos o «Passagem do Cabo», um dos seus livros auto-biográficos e nele encontrei a frase «isto de contar a vida é sempre mais triste do que vivê-la». Está aqui a explicação íntima, a de fazer próprias as dores alheias, juntando-as às já sentidas.