Viajar de comboio permitiu-me ler o A China Fica ao Lado, o livro que Maria Ondina Braga escreveu quando da sua passagem por Macau, como professora e que se editou em 1968, com uma nova edição, aumentada, em Fevereiro de 1974. O 25 de Abril atiraria o livro para o olvido e quase com a escritora para o rol dos ostracizados. Eu falarei aqui deste livro de contos, comovente de sensibilidade e de delicadeza de sentimentos. Mas fixei-me hoje na pequena frase que Natércia Freire disse sobre a autora e que orna a badana esquerda da capa: «creio que nenhuma escritora disse, até hoje, com maior simplicidade e clareza, e em tão poucas palavras, o drama solar de determinadas mulheres - para as quais nem o próprio amor representa um tempo de companhia». É isto que se desfolha neste livro, página a página cruelmente, como no colégio «diante das batatas cozidas, dos pires de açucar, das tigelas fumegantes, sentava-se ao lado de Miss Carol, ao nosso lado (à mesa de toalha de oleado e loiça grosseira) a Tristeza, ou a Pobreza, ou a Solidão, não sei bem. Sei só que era feminina e incomodava». Miss Carol, mestiça de chinesa e de inglês, a professora de Literatura britânica, aquela que «dir-se-ia nunca ter sido nova».