Partilhamos o mesmo amor pela mesma mulher. Separa-nos o Atlântico, que é apenas um riacho na amizade. Nunca nos encontrámos pessoalmente, apenas as almas. Devo-lhe gentilezas reiteradas. Escreveu-me hoje a confessar que tem um «caso sério» com esta magnífica escritora. Como eu. Não há ciúme, porém, onde há o carinho pelo ser amado. Chama-se Ernane Catroli. Vive no Rio de Janeiro. É dele o texto que aqui arquivo.
«Era um rio. Um rio sem margens. Caudaloso. Encapelado.
De resto, a agonia das cores à hora do crepúsculo.
Antes, foram as gotas-d’água que faltavam para exilar meu antigo desejo de solução, de consolo. E somar espinhos ao que eu já suporto com dor e medo:
padre Antônio desistiu da batina na festa do padroeiro e insone a cidadezinha. Prima Alícia ateou fogo às vestes e, no alto da ladeira, um tição na noite fechada. Uma história de indumentárias. E cores. Quase. Mas de tão íntimo e irremediável sentir que não cabe pergunta.
Tão claro como um caminho claro, imperativo, insiste o que bordeja. Vislumbro os sinais. Decifro códigos. Dure pouco ou não: eu espero».