A pálida luz

Foi esta tarde em Braga no Museu Nogueira da Silva, na Rua Central, mesmo ao lado da casa onde nasceu. Inaugurou-se ali um espaço simbólico que lhe é dedicado. Chega-se até ele por um jardim perfumado de roseiras. Espaço exíguo como o dos quartinhos acanhados de professora em que viveu. Ali estão alguns objectos, cartas, a fotografia última da sala de trabalho da sua casa em Lisboa, na Rua Cláudio Nunes, em Benfica. Última porque depois partiria, as malas feitas, para a última viagem, ela errática alma que povoa, como uma discreta névoa, os céus de tão longínquas pátrias.
Discursos, uma análise de leitor, um testemunho comovido de Luís Soares Barbosa, seu sobrinho, a abrir uma ponta do véu sobre a alma amorosa de quem da paixão parecia ausente, ela «sensitiva flor, tão frágil, tão nua, que a crestam os ventos de qualquer jardim». Em breve chegará ao seu espólio o epistolário desse desabrochar no ser os sentimentos pelas sensações.
De todas as imagens possíveis que poderiam simbolizar neste local ignoto esse momento deixo esta. Quando o iniciei em 2006 pouquíssimos queriam saber desta mulher. Hoje surge da penumbra para a pálida luz. Ali estivemos, unidos em torno do que nem sonhávamos uniria.

Viver sempre, cansa...

É uma entrevista que concedeu ao Primeiro de Janeiro. Júlio Valente conservou-a. Encontra-se aqui. Define-se como uma mulher que escolheu a solidão. Já a tinha mencionado neste blog. Esta noite fica a fotografia, a finura do porte, a doçura contida, o cruzar dos braços, refugiando-se em si.

Inauguração do Espaço Maria Ondina