Chegou a Malanje, a cidade onde eu nasci, de automotora, a ler um livro de Camilo Castelo Branco. Na palestra que em 1997 proferiu em Braga, para a comemoração do Dia Mundial do Livro, falou dos livros seus preferidos, detendo-se longamente no autor de A Queda de Um Anjo. Um vizinho, farmacêutico, o senhor Paiva, tinha dele a colecção completa, encadernada a verde. E ela, miúda ainda, insaciável, a trocar as brincadeiras infantis, pela leitura de um livro por dia e a seguir, através dele, o Destino, a trágica força motriz do que sucede e do que não acontece. «Para Camilo, pois, o Homem inteiramente à mercê do Bem e do Mal, ou seja, à mercê de si mesmo. Em suma, o homem só e indefeso». Como para a sua vida.
Uma dúzia de anos depois leria Camilo em Macau, no seu quartinho de professora. «E a meu tio, idoso e com princípio de cataratas, ler-lhe-ia também livros como A Corja, Novelas do Minho, A Brasileira de Prazins. Notáveis». Notável, sim, ela. Magnífica.