Maria Ondina Braga: Obras Completas

 


Com júbilo, recebo o primeiro volume das Obras Completas de Maria Ondina, amável oferta de seu sobrinho, Luís Soares Barbosa. Publicado pela Imprensa Nacional, levando no frontispício o logotipo da Câmara Municipal de Braga, edição e prefácio de João Cândido de Oliveira Martins, coordenação do próprio e de Isabel Cristina de Oliveira Martins.

A obra compendia três livros: Estátua de Sal, Passagem do Cabo e Vidas Vencidas. O critério da selecção passou por assumir que se trata de escritos de natureza claramente autobiográfica, embora, por vezes de forma ténue, há apontamentos de vida semeados ao longo de quase tudo quanto escreveu: o seu ser, o que observa e o modo de contar, tornam-se amiúde indissociáveis.

Em tempos, por me doer saber os seus livros esgotados e por acalentar a patética fantasia de ser editor - o que me concretizei até ao esgotamento da ilusão, publicando quanto pude - sugeri publicar todos os seus livros. Interesse próprio, nenhum, por ter consciência de que, outrora como cada vez mais hoje, seriam escassos os leitores e penoso o custo da publicação.

Devo, porém, confessar que, ante esta edição, a mesma faz jus à dignidade da escritora, até por ter como seu substrato uma fixação do texto e trabalhos complementares que situam o leitor ante o que lhe é oferecido. E eu ficaria necessariamente aquém. Estamos perante uma justa e há muito devida homenagem.

Escrito em 1963, em Macau, Estátua de Sal foi publicado apenas em 1969, tendo conhecido edições posteriores [a 2ª em 1976, pela Círculo de Leitores, a 3ª pela Ulmeiro, em 1983]. Os editores da presente colecção depararam-se com notas de alteração, escritas pelo punho da autora, o que exigirá, como os próprios assumem, «futuramente um meticuloso estudo genético desta ampla adenda revisionista, feita pela mão da escritora».

 Quanto a Passagem do Cabo o seu texto seria editado em primeira mão, em 1965, pela Agência Geral do Ultramar, sob o título Eu Vim para Ver a Terra. A segunda edição, já com o título agora divulgado, sairia em 1994 pela Caminho.

Enfim, Vidas Vencidas, conheceria, para além desta segunda, a edição publicada pela Caminho em 1998.

Não despiciendo, o livro termina com dois textos respeitantes ao tema do ano de nascimento de Maria Ondina. Luís Soares Barbosa escreve um "Esclarecimento" quanto ao tratar-se de um centenário, a tomar como referência 1922 e não 1932 como durante muito tempo constou. Isabel Cristina Pinto Mateus e José Cândido de Oliveira Martins aditam ao facto agora formalmente revelado um estudo erudito, discreteando entre as razões declaradas e as conjecturadas para tal discrepância cronológica, «elemento fulcral na afirmação da identidade literária de Maria Ondina Braga».