Este fim de tarde deu-me para andar pelos quartos desabitados destes meus blogs. O da Maria Ondina Braga é um exemplo. «Filhos gerados sem paixão nasciam mortos», escreveu ela na novela A Visita, publicado em 1973 no livro Os Rostos de Jano. Este espaço que lhe destinei, pelo contrário, nasceu de uma profunda paixão pela sua escrita. Praticamente esquecida, por muitos desconsiderada, Maria Ondina é um exemplo de uma escrita no feminino excepcional pela sensibilidade, pela densidade dos sentimentos, pela agudeza da observação humana. Reclusa no seu universo pessoal, está ali contida, num interior existencial, a totalidade da essência do mundo que vale a pena ser vivido. Transmuta a carne em alma, toda a Natureza na Pessoa pela alquimia da literatura. Penaliza-me a sua ausência.