Duro, quando sério, paciente se meticuloso, o risco de um erro em cada palavra e frequentemente mal pago, não pago. Numa entrevista que concedeu a um jornal queixou-se disso mesmo. Era, ao lado do seu modesto salário como professora, uma das suas fontes de rendimentos para o frugal quotidiano.
Ontem na Biblioteca Pública Municipal do Porto encontrei um ficheiro com as obras que traduziu. Já em tempos tinha copiado parte da Biblioteca Pública Municipal de Braga. Estava com pouco tempo mas não hesitei. Uma a uma, completei a lista no blog que lhe dedico. Pode conter imprecisões. Estimar esse esforço é mostrar-me onde errei e o que falta.
Surpreendeu-me, por pura ignorância literária minha e guiado pelas aparências biográficas, que aquela alma diáfana tivesse traduzido Anais Nin, a obra que esta publicou na sua própria editora, em 1944. É dela a fotografia que orna este postal.
Espantou-me que eu tivesse lido Graham Greene e sobre ele escrito sem saber que ela o traduzira.
Confortou-me saber que entre tanta responsabilidade que tenho sobre os ombros, por causa da profissão, tanta preocupação que me cerca por causa do que a vida traz, eu tenha tido aquele trabalho, paciente, meticuloso, gratuito, numa manhã de chuvisco, incógnito, em homenagem a uma escrita que não quero que morra pelo esquecimento dos leitores e por isso desinteresse dos editores.