A intersecção do acaso


Recebido com amizade, foi grata a oportunidade de encontrar no Museu Nogueira da Silva um espaço de gentil acolhimento. 
Trouxe a minha Ondina Braga, a que senti e pressenti ao longo de um convívio com a sua obra, fruto de uma viagem de vida por alguns dos espaços por onde ela peregrinou.
Do texto que lhe dediquei permito-me estes três extractos, pois talvez neles se aproxime quanto quis ficasse vincado no espírito de quem, neste Sábado de Sol me quis ouvir:

«O ensino, as viagens, o cosmopolitismo da sua juventude, a herança cultural de seu tio, o próprio ambiente em casa, talvez tudo isso lhe abrisse as portas da socialização não fora o seu espírito solitário, a isolar mais do que as circunstâncias a afastariam da convivência.
Maria Ondina é, por um lado, «a menina triste», por outro, o ser humano que quase que só tinha olhos para as vítimas do infortúnio em seu redor, condenados ao Inferno na terra, aqueles para quem solidão não era luxo, mas fruto da penúria e da sobrecarga de trabalho.»
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«Como ser-se feliz quando pesa como excesso o pouco que se tem? Quando se é mulher e só, em terras onde todas as mulheres parecem ter companhia e não a ter assemelha-se a doença escondida ou vício oculto.»
[...]
«Mau grado isto, não se estranhe que, sob este pesado manto de agonia, haja, como latente jorro vulcânico, carnalidade e sensualismo, mas expresso com tal delicadeza e finura, como tule fosse de véu ao pudor, ou renda de bilros a que tanto se dedicou. Num verso que encontrei, solto, no seu espólio, em Braga, li a contraída contenção e a expectativa:

"criada para beijar minha boca está crispada/dói-me o saber-me à espera de nada".»

A quantos tiveram a gentileza de convidar e estar presentes, muito obrigado! Não sou académico, disse, ou estudioso, apenas leitor apaixonado.

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Fotos com a devida vénia ao Espaço Maria Ondina Braga, no FB