Estava mesmo ao lado do Tribunal, era a Biblioteca Teixeira-Gomes, porque ele nasceu em Portimão. E nela encontrei um único livro da Maria Ondina Braga, logo por acaso aquele que eu ando a ler, logo por coincidência na edição que não é a que tenho, para grande surpresa com uma nota introdutória do Tomaz de Figueiredo. Nesta altura ela assinava só como Maria Ondina. Era tarde, doíam-me os pés, o corpo pedia paragem, a cabeça ar fresco. Mas um desejo irreprimível, o de ler o que por ventura não lerei tão cedo, levou-me a sentar-me num canto livre de uma mesa, pedir um pedaço de papel e anotar, numa letra gatafunhada, este momento. Tomaz de Figueiredo pergunta-se: «Apresentar este livro? Mas um livro destes? Apresentá-lo só o apresentaria se a cada leitor aqui o chamasse e o lesse». Eu estava na rua, vinha do tribunal, era tarde, doíam-me os pés, o corpo pedia paragem, ele chamou-me para num canto livre daquela mesa ler-me a Maria Ondina, a Estátua de Sal.