Eu hoje vou levar-te comigo, Maria Ondina, para um passeio junto do mar. Apanharemos sol, que precisamos, as nossas almas anémicas, os nossos corpos esmaecidos. Num recanto da intimidade, dar-nos-emos as mãos e que ninguém nos veja. Insensato de sentimentos, falarei sem parar. Silenciosa, a nostalgia do silêncio a povoar-te o corpo, os pequenos pés nus marcados na areia, pararás, para que eu te olhe. Escreverás então no teu livrinho de notas, amanhã, na solidão do teu quartinho: «Guardei, sim esta cena: a minha tristeza a abraçá-lo, longa, carinhosamente, do jeito que os homens gostam de ser abraçados». Tu vais, Maria Ondina, ser o meu dia.