Os Rostos de Jano é na obra de Maria Ondina Braga uma excelência de sensualidade e em certos momentos de erotismo. Literatura de recolhimento interior, a sua, parece confinar-se a sentimentos tristonhos de ausência´carnal, sem que um afago, uma volúpia, um halo de desejo pareça ferir-lhe as noites ou iluminar-lhe os dias. E, no entanto, há nesta narrativa, escrita em 1973, sempre o interior de piedade pela sua condição de solitária. «Um filósofo chinês disse que o sentimento da comiseração é o começo do amor», escreveu. Haverá quem leia isto e se revolte, pragmática e racional, como isto tivesse sido escrito por «homens que haviam nascido agachados e a quem só alguma, rara mulher, restituiria a altura. Mulher que os aceitasse sem paixão por piedade». Há quem leia isto e compreenda que está aqui o retrato negativo do que resta, num mundo povoado de naufrágios. Uma vida já indiferente, sôfrega e ansiosa.